NOTÍCIA
AUDIÊNCIA PÚBLICA
Intolerância religiosa foi tema de debate na Câmara

A
Câmara de Vereadores realizou Audiência Pública na tarde desta quarta-feira
(10) para discutir tópicos relacionados à intolerância religiosa em Passo
Fundo. O encontro foi solicitado pela Comissão de Cidadania, Cultura e Direitos
Humanos (CCCDH) e contou com a presença dos vereadores, além de representantes
do Executivo, de entidades religiosas e lideranças comunitárias.
O comando da audiência foi do presidente da CCCDH, vereador Michel Oliveira (PSB), e foi acompanhado na Mesa Oficial pela secretária municipal de Cultura, Miriê Tedesco, pelo comandante do 3º RPMon, tenente-coronel Marco Antônio Moraes, pela assessora da Procuradoria-Geral do Município, Tayná Rodrigues e pela coordenadora de Igualdade Racial do município, Giovanessa Menezes.
O presidente do Legislativo, vereador Alberi Grando (MDB), na abertura do encontro, colocou que a demanda é importante e que a Câmara deve acolher as pautas para ouvir as pessoas. “O tema é muito relevante para que se estabeleça uma discussão e que se possa ter encaminhamentos visando combater tais práticas”, declarou.
No início da audiência, o vereador Michel explicou que o evento foi provocado por relatos que chegaram ao Legislativo sobre atos de violência contra sedes de centros de religiões de matrizes africanas, em especial. Ele atestou que o principal objetivo era ouvir reivindicações da comunidade representadas por lideranças religiosas e autoridades.
No espaço aberto para manifestações da comunidade, várias lideranças de diferentes vertentes religiosas se manifestaram e entoaram a ideia de combate total à intolerância religiosa e de uma construção de ações para uma nova consciência e entendimento de que se possa praticar a fé independente de matriz religiosa.
O único representante da comunidade budista, Mário Werners, considerou a discussão importante para construir um processo de cultura de paz. Ele endossa sobre o Estado ser laico, de forma que todos têm direito a se manifestar, lembrando sobre o histórico do Brasil ser feito por um longo período de escravidão, o que sufocou manifestações de negros e de povos originários. Ele entende ser preciso construir um trabalho sólido de conscientização e de unidade para combater a intolerância.
Os representantes de religiões cristãs ressaltaram a liberdade como elemento fundamental para se exercer a fé, independente de religião. Foi feita a observação de reconhecer a intolerância presente na sociedade para que se possa combatê-la com rigor. Eles ainda pontuaram que o processo de intolerância é construído e fomentado por um viés educacional, de forma que é preciso exercer uma consciência coletiva para que reine a paz com tolerância a todas as matrizes. Além disso, enfatizaram sobre ser necessária uma articulação entre entidades religiosas para reforçar que Passo Fundo acolhe e protege pessoas de todas as religiões.
Os representantes das religiões de matrizes africanas salientaram que são vítimas assíduas de discriminação e intolerância religiosa, relatando fatos violentos, como incêndios em casas e vários tipos de agressões sofridas, tanto em Passo Fundo como em cidades próximas. Foi salientado também que muitos casos de intolerância não são devidamente encaminhados ou sequer denunciados. Ainda foi feita reivindicação sobre alvarás em diversas casas de religião, bem como ratificaram a importância de implantação de políticas públicas de combate à intolerância religiosa.
O comandante do 3º RPMon Marco Moraes pontuou a importância do debate realizado por este representar um avanço no combate à intolerância. Ele recordou sobre experiências suas no exterior em que conheceu pessoas de diversas religiões, testemunhando situações de intolerância religiosa. Além disso, sublinhou a necessidade de ser melhor trabalhado o conceito de intolerância junto às forças de segurança e reiterou o apoio da Brigada Militar no combate. “É preciso discutir de forma detalhada esse conceito pois, em muitos casos, os registros ficam como perturbação do sossego. Por isso, é importante esse encontro e a nossa corporação reforça o combate à discriminação e à intolerância religiosa”, afirmou.
A secretária municipal de Cultura, Miriê Tedesco, lembrou que as manifestações religiosas são consideradas também como manifestações de cultura popular, reforçando sua importância junto à sociedade. Ela ainda reiterou a importância em ampliar a discussão para que se tenha uma precisa dimensão do tema. “É preciso realizar o debate para que se entenda o conceito para que possamos melhorar como pessoas e que tenhamos uma melhor definição para a cultura”, completou.
A coordenadora de Igualdade Racial do município, Giovanessa Menezes, alertou que o preconceito é exercido junto a todas as religiões, porém as de matrizes africanas o sofrem em volume muito maior. Ela ainda frisou a necessidade de união e de construção para que se tenha um melhor entendimento sobre as religiões. “É preciso se trabalhar nas escolas e na sociedade para que se tenha uma consciência que possa coibir a intolerância religiosa”, apontou.
O vereador Wilson Lill (PSB) e a vereador Regina Costa dos Santos (PDT) também se manifestaram e colocaram sobre o processo de respeito e empatia ser essencial para que se supere a intolerância. Além disso, se observou que muitas crianças vivem em ambientes intolerantes, reforçando assim uma cultura que leva a tais ações. A mudança individual também foi mencionada como um caminho para mudar o cenário.
O vereador Michel, no encaminhamento final, frisou que os vereadores acolheram a ideia da realização desta audiência pública e que já protocolou documentos visando ações pelas sedes religiosas de todas as frentes. Ele endossou estar em constante diálogo com o Executivo e com diversas frentes, além de registrar a importância das entidades religiosas para as pessoas e o apoio do Legislativo no combate à intolerância. “Vocês salvam vidas pois prestam um serviço espiritual e auxiliam na saúde mental das pessoas. Muitas delas encontram na espiritualidade um caminho. Por isso, o amor e o respeito nos unem. Desta forma, reforço que vocês têm todo o apoio da Câmara”, concluiu.
Ainda estiveram presentes os vereadores Edson Nascimento (União Brasil), Leandro Rosso (Republicanos), Eva Valéria Lorenzato (PT), Cláudio Rufa Soldá (Progressistas), Altamir da Silva dos Santos (Cidadania) e Luizinho Valendorf (PSDB).
Foto: Comunicação Digital / CMPF