NOTÍCIA
HISTÓRIA
Jayme Caetano Braun é considerado um dos maiores nomes da música gaúcha
A
websérie “Revivendo Passo Fundo” trata de relembrar trajetórias de pessoas que
deixaram sua marca na história do município e foram eternizadas denominando
ruas e logradouros de nossa cidade. O personagem desta edição é o poeta,
escritor, ex-funcionário público e político Jayme Caetano Braun. Ele se
notabilizou como um dos maiores nomes da música e cultura gaúcha por suas
poesias, sendo considerado um dos maiores payadores do estado em todos os
tempos, morou e estudou em Passo Fundo, além de ter participações no meio
político. No município, uma alameda e uma praça levam seu nome como forma de
reconhecimento.
Jayme Guilherme Caetano Braun nasceu no dia 30 de janeiro de 1924 em uma localidade chamada Timbaúva, na época distrito de São Luiz Gonzaga (RS), que posteriormente se emanciparia (em 1965), vindo a se chamar Bossoroca. Segundo registros, ela veio ao mundo na fazenda chamada Santa Catarina, propriedade de seu avô materno Aníbal Caetano. Era filho de João Aloysio Thiesen Braun, filho de imigrantes alemães, professor e diretor; e de Euclides Ramos Caetano Braun, filha de família tradicional pecuarista da região. Ele viveu sua infância inteira na localidade de Timbaúva, em residência nas proximidades de tradicional local na região chamado Praça da Lagoa.
Jayme acabou lidando desde jovem com as rotinas de fazenda, pois também convivia com seus avós periodicamente na fazenda onde nascera, bem como se habituara com textos e poemas, uma vez que sua mãe vinha de uma família de poetas e trovadores, além de seu pai ser professor de longa data. Além disso, o sr. João Aloysio exerceu o cargo de delegado de ensino em diversas cidades do Rio Grande do Sul, entre elas, Passo Fundo.
Aos 16 anos, Jayme vem com a família para o município devido à transferência de seu pai para cumprir sua função junto à Delegacia do Ensino, em 1940. Em Passo Fundo, Jayme segue cursando e conclui o Ensino Fundamental no Colégio Marista Conceição. Também em seu período como habitante passo-fundense, ele serviu o Exército e ficou na cidade até seus 19 anos, quando seu pai fora transferido para Cruz Alta (RS), já em 1942. Neste mesmo ano, este se aposentou e faleceu. Com isso, Jayme passou a residir em Porto Alegre e a estudar no Colégio Estadual Júlio de Castilhos onde faz o Ensino Médio. Logo, ele retorna à São Luiz Gonzaga e se aprimora no autodidatismo.
Além dos versos e palavras em forma de poesia, nos quais viria a ser referendado futuramente, ele fazia uso de sua capacidade de expressão para a política. E a praticou desde modo a partir de 1945 ao participar em palanques de comício como payador. Trata-se de uma espécie de repentista, que pratica a “pajada”, neste caso, uma forma de poesia improvisada vigente na Argentina, no Uruguai, no sul do Brasil e no Chile, chamada “paya”, estruturada em estrofes de dez versos. Deste modo, ele apresentou poemas para Getúlio Vargas, por exemplo, além de outras figuras políticas da época como Ruy Ramos, seu padrinho político e primo, se estendendo nos anos seguintes a nomes como Leonel Brizola, João Goulart e Egídio Michaelsen.
Com sua verve poética intensa, Jayme chegou à Rádio São Luiz, em São Luiz Gonzaga, onde passou a comandar o programa chamado “Galpão de Estância”, em 1948. Neste espaço, ele pôde aprimorar e tornar seu estilo conhecido em toda a cidade e região, divulgando a cultura campeira e angariando grande sucesso. Anos depois, em 1973, ele tem salientada sua notoriedade estadual no ramo por meio do programa chamado “Brasil Grande do Sul”, nome de outro livro seu de 1966, transmitido pela Rádio Guaíba AM, de Porto Alegre, durante 15 anos.
No campo da escrita poética, se especializou primeiramente em poemas com estrofes de 10 versos chamados décimas. Ele começou a juntar poemas que escrevia desde jovem por influência da família. Após produzir grande material com versos de temática campeira, quase sempre dedicados a objetos do universo do homem da Campanha, veio à tona seu primeiro livro, com o mesmo nome de seu primeiro programa de rádio, “Galpão de Estância”, de 1954. Este ainda seria o nome do primeiro Centro de Tradições Gaúchas de São Luiz Gonzaga inaugurado por ele. No mesmo ano, ele participou do 1º Congresso de Tradicionalismo do Rio Grande do Sul, realizado em Santa Maria (RS), como payador. Ainda no final dos anos 1950, ele foi um dos fundadores e membro ativo da Academia Nativista Estância da Poesia Crioula, um grupo de poetas tradicionalistas.
Jayme alimentava o sonho de cursar e se formar em Medicina, porém acabou usando seu autodidatismo também para isso, tanto que se especializou em remédios caseiros com a justificativa de que “todo missioneiro tem a obrigação de ser um curador”. Outro fruto colhido de seu autodidatismo foi sua imensa cultura literária, que culminou no período em que ocupou o cargo de diretor da Biblioteca Pública do Estado, entre 1959 e 1963. Antes disso, em 1958, lançara seu livro “De Fogão em Fogão”. Neste momento, ele já morava novamente em Porto Alegre, onde se estabilizou como funcionário público. Ele também trabalhou no Instituto de Pensões e Aposentadorias dos Servidores do Estado (IPASE) onde ele era reconhecido pelo grande conhecimento que tinha dos remédios. Em meio ao seu período como diretor da Biblioteca Pública do Estado, ele se candidatou a deputado estadual pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) em 1962, porém não conseguiu votação suficiente para ter uma cadeira na Assembleia Legislativa do Estado.
Jayme conseguiu obter grande reconhecimento por suas poesias dentro e fora do Rio Grande do Sul, inspirando muitas pessoas e proliferando a cultura gaúcha por muitos lugares, o ratificando como um dos expoentes da poesia gauchesca e com forte ligação à música, já que vários escritos seus foram adaptados para canções. Além disso, o próprio Jayme gravou álbuns com material próprio em parceria com o músico Noel Guarany. Também fez parcerias com os artistas Luiz Marenco, Lúcio Yanel e Cenair Maicá.
Entre os destaques de sua obra literária ainda constam os livros de poesias “Potreiro de Guaxos” (1965), “Bota de Garrão” (1966), “Paisagens Perdidas” (1966) e “Pendão Farrapo” (1978), este alusivo à Revolução Farroupilha, além das obras “Payador e Troveiro” (1990) e “50 anos de poesia” (1996), essa sua última escrita lançada. Após isso, ele lançou o disco chamado “Poemas Gaúchos” com vários poemas seus musicados, sendo este seu último lançamento em vida. Entre suas obras, ainda são incluídas um dicionário de regionalismos, lançado em 1987, chamado “Vocabulário Pampeano – Pátria, Fogões e Legendas”, além de um disco chamado “Troncos Missioneiros” gravado e lançado em 1988 em parceria com Noel Guarany, Pedro Ortaça e Cenair Maicá. Ele também ganhou o “Prêmio Açorianos” na categoria “Destaque Especial” em 1997.
Jayme Caetano Braun vinha enfrentando problemas de saúde no final desta década e faleceu no dia 8 de julho de 1999, vitimado por complicações cardiovasculares, em Porto Alegre, aos 75 anos. Ele foi velado no Salão Nobre “Negrinho do Pastoreio”, no Palácio Piratini, sede do governo estadual, e sepultado no cemitério João XXIII, na capital gaúcha. Ele recebeu diversas homenagens em várias cidades e em Passo Fundo, uma alameda e uma praça situadas no bairro Roselândia levam seu nome, desde 2004, como forma de reconhecimento à sua obra.
Arte: Comunicação Digital / CMPF
