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Câmara de Vereadores de Passo Fundo/RS

NOTÍCIA

HISTÓRIA

José do Patrocínio foi grande acadêmico e defensor do abolicionismo

A série “Revivendo Passo Fundo” resgata histórias de pessoas que foram protagonistas em seu tempo e deixaram seu legado, sendo reconhecidas através da denominação de ruas e logradouros no município. O personagem desta edição é o orador, jornalista, farmacêutico, escritor e ativista político, José do Patrocínio. Ele se destacou por seu ativismo contra a escravidão no Brasil através de seus textos e ações no meio político. Foi proprietário de jornais, figura influente na concretização da abolição e fundamental na fundação da Academia Brasileira de Letras. Em Passo Fundo, uma rua no bairro Recreio leva seu nome.

José Carlos do Patrocínio nasceu em Campos dos Goytacazes (RJ) no dia 9 de outubro de 1853, sendo filho do vigário da paróquia da cidade, João Carlos Monteiro e da escrava Justina do Espírito Santo. Ele passou sua infância em uma fazenda de propriedade do pai na cidade natal onde convivera com os escravos de lá até os 14 anos de idade e conviveu com muitas dificuldades. Então, após completar os estudos primários, pediu a seu pai autorização para ir ao Rio de Janeiro. Tendo ela concedida, foi para a capital imperial tentar ganhar a vida.

Seu primeiro emprego foi como servente de pedreiro na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, por volta de 1868. Posteriormente, empregou-se na casa de saúde do doutor Batista Santos. O combate à doença lhe chamou a atenção e o influenciou em sua escolha para cursar Farmácia. Para isso, contou com ajuda do professor João Pedro de Aquino ao ingressar em seu curso preparatório, e, ao passar nos exames, entrou para a Faculdade de Medicina.

José se formou como farmacêutico em 1874. Durante o curso, residiu em uma república de estudantes. Após sua graduação, passou a lecionar para crianças, por incentivo de um de seus colegas, chamado João Rodrigues Pacheco Vilanova, colega do Externato Aquino (pertencente a João Pedro de Aquino), que o convidou para morar em São Cristóvão, então bairro nobre na região central do Rio de Janeiro. Nessa mesma residência, passava a funcionar o “Clube Republicano” no qual José se filiara e fez amizade com pessoas como Quintino Bocaiúva, Lopes Trovão, Pardal Mallet, entre outros.

Em 1875, José ingressou no jornalismo trabalhando no veículo “Gazeta de Notícias”. Nesse mesmo ano, iniciou parceria em periódico quinzenário junto a Dermeval da Fonseca, chamado “Os Ferrões”, por meio de pseudônimos “Notus Ferrão” (Patrocínio) e “Eurus Ferrão” (Fonseca). Já em julho de 1876, expandiu sua veia poética, quando escreveu um ousado poema, dirigido à princesa Isabel, que foi publicado em periódico chamado “O Mequetrefe”. Em 1877, José passou a escrever em coluna chamada “Semana Parlamentar” usando o codinome “Prudhome”. Neste espaço, ele iniciaria uma campanha aberta pelo abolicionismo já em 1879. Chamou atenção de um seleto grupo de oradores e jornalistas que passaram a adotar suas ideias, dentre eles, o então proprietário da “Gazeta da Tarde”, Ferreira de Menezes e Joaquim Nabuco (já retratado neste espaço). Aliás, seus caminhos se juntaram em prol desta causa oficialmente em 1880, quando fundaram em parceria a “Sociedade Brasileira contra a Escravidão”.

No ano seguinte, Ferreira de Menezes faleceu e José adquiriu a “Gazeta da Tarde” com ajuda de seu sogro, o capitão Emiliano Rosa Sena, dono da propriedade onde José morava e pai de Maria Henriqueta, sua ex-aluna. Como diretor do veículo, passou a se dedicar ainda mais à causa da libertação dos escravos. A essa altura, ele já havia se destacado como orador ao ocupar espaços em tribunas para atacar a escravidão. Em 1883, ele fundou a “Confederação Abolicionista” após reunião com representantes de clubes e associações abolicionistas atuantes no Rio de Janeiro e em Niterói (RJ). Na coordenação da redação do jornal, José e a Confederação coordenaram a luta pela abolição que, a essa altura, ganhava grande adesão em nível nacional.

Tal repercussão culminou em incursões de José pelo Brasil. Nesse período, ele foi à província do Ceará e realizou discursos e ações pró-libertação dos escravos. Tais atos resultaram na abolição da escravatura naquele estado ainda em 1884, anos antes da Lei Áurea. No ano seguinte, ele visitou sua terra natal, sendo aclamado pela comunidade por sua causa. Nessa mesma época, sua mãe falecera e, com esse fato, endossou seu discurso pró-abolição. A essa altura, contava com apoio de figuras importantes do cenário político nacional de então, como o jurista Ruy Barbosa e os futuros presidentes do Brasil, Campos Sales e Prudente de Morais.

Com tamanha repercussão, José aderiu ao meio político em 1886 se candidatando e elegendo vereador pelo Rio de Janeiro com maciça votação. Nessa época, ele conciliava as atividades políticas com as literárias, publicando as obras "Mota Coqueiro", "Os Retirantes" e "Pedro Espanhol". Corria o ano de 1887 quando ele deixou a “gazeta da Tarde” e fundou o jornal “A Cidade do Rio”. Nessa época, a campanha abolicionista atingiu seu ápice de popularidade, com José sendo protagonista em seus discursos, além de participar das manifestações populares e comícios. Em 3 de maio deste ano, ele e Ruy Barbosa discursaram nas janelas do Senado diante de multidão reunida nas ruas próximas. Cinco dias depois, era apresentado o projeto final da abolição ao Parlamento. Em 1879, escreveu a obra “Os Retirantes”, onde o cenário era a seca do Nordeste.

Veio o ano de 1888 e com ele a promulgação da Lei Áurea, em 13 de maio, pela Princesa Isabel, consumando a luta pela abolição da escravatura. José saudou a nova lei que representava uma virada de página para o Brasil. A essa altura, ele era rotulado como um "isabelista" e foi apontado como um dos mentores da chamada “Guarda Negra”, que consistia em um grupo de ex-escravos que agia com violência contra manifestações republicanas. O grupo iniciou um verdadeiro culto à Princesa Isabel, o chamado “Isabelismo”, combatendo ativistas contrários a um terceiro reinado no país.

Porém, ele passou a ter problemas pois, ao passo que a abolição era realidade, crescia o movimento pelo fim da monarquia e instauração da República junto à opinião pública. Nisso, incluía-se a própria Confederação Abolicionista, cujos líderes se afastaram de José, por ele defender o regime monárquico que estava em crise. Ele manifestava sua posição pró-Império por meio de seu veículo jornalístico, que foi perdendo clientela. Até que a República fora proclamada em 15 de novembro de 1889 e José teve de se render à opinião pública e entoou fala a favor do novo regime. Nesse momento, ele ainda era vereador no Rio de Janeiro.

No entanto, a vida política de José ficara complicada, pois ele entrou em conflito com o governo do então presidente Floriano Peixoto, por volta de 1892, por suas posições. Nesse mesmo período, importou da França o primeiro automóvel a circular no Brasil. Ele foi porta-voz da chamada “Revolta da Armada”, que representou um entrave nos primeiros anos de governos republicanos. Seu jornal teve as publicações suspensas. Acabou mandado para o distrito de Cucuí, no Amazonas, (atualmente integra a cidade de São Gabriel da Cachoeira), região do alto Rio Negro pelo governo. No ano seguinte, retornou ao Rio de Janeiro de forma discreta. Sem agir politicamente, se fixou no bairro de Inhaúma, ainda com seu jornal, sem poder publicar novas edições, embora declaradamente de oposição ao governo. A partir disso, José teve discretas aparições públicas e publicações. Mesmo assim, manteve seu veículo jornalístico entre 1895 e 1902, quando fechou as portas definitivamente.

Mesmo reclusos politicamente, José se manteve ativo no âmbito literário. Tendo relação afetuosa com diversos intelectuais, dentre eles o escritor Olavo Bilac, foi importante articulador para a fundação da Academia Brasileira de Letras. Ele foi um dos escritores que formalizou e instituiu a entidade, junto de nomes como Machado de Assis, Bilac, Ruy Barbosa, Joaquim Nabuco, Luis Murat, Clóvis Bevilácqua, entre outros. A fundação se deu em 20 de janeiro de 1897, com José atuando nas sessões preparatórias e primeiro ocupante da cadeira nº 21, cujo patrono foi Joaquim Serra.

Após isso, discursou congratulando Santos Dumont que viera da França em 1903, saudando a invenção do avião. Nessa ocasião, contraiu hemoptise, que era um sintoma de tuberculose. A essa altura, ele era entusiasta do invento, chegando a mandar construir um balão chamado “Santa Cruz”, empolgado com o sonho de voar, mas que nunca foi concluído. Ele ainda escrevia artigos para alguns jornais como forma de sobrevivência. Em 1905, ele escreveu a obra “Ave Rússia”, saudando a luta contra o czarismo.

José do Patrocínio teve seu quadro de tuberculose agravado e faleceu em 30 de janeiro de 1905, aos 51 anos, deixando um legado literário e de luta pelo abolicionismo. Ele foi casado com Maria Henriqueta desde 1879. Ele é considerado por seus historiadores o maior de todos os jornalistas da abolição. Recebeu homenagens póstumas em centenas de cidades pelo Brasil. Em Passo Fundo, uma rua no bairro Recreio leva seu nome.

Arte: Comunicação Digital / CMPF