NOTÍCIA
HISTÓRIA
Bartolomeu de Gusmão é considerado pioneiro na aeronáutica

A websérie “Revivendo Passo Fundo” coloca à disposição históricos de pessoas que tiveram realizações relevantes, construíram grandes trajetórias de vida e obtiveram reconhecimento denominando ruas e logradouros no município. O personagem desta edição é o sacerdote, cientista e inventor Bartolomeu Lourenço de Gusmão. Ele é lembrado por ser considerado um dos pioneiros na aviação pelo fato de lhe ser atribuída a invenção do primeiro aeróstato operacional, que veio a ser o balão, além de outros inventos. Como reconhecimento em Passo Fundo, uma rua no bairro São José leva seu nome.
Bartolomeu Lourenço de Gusmão nasceu na Capitania de São Vicente, onde hoje se situa a cidade de Santos (SP), no dia 19 de dezembro de 1685, sendo filho de Francisco Lourenço Rodrigues e de Maria Álvares. O casal teve um total de doze filhos, com a maioria deles orientados a seguirem a carreira eclesiástica, incluindo Bartolomeu. Por ser filho de portugueses que se instalaram no Brasil, ele era considerado de etnia luso-brasileira. Ele fez seus primeiros estudos em sua terra natal e deu continuidade a eles na então província da Bahia, na época chamada “Baía de Todos os Santos”. Lá, ingressou em uma instituição denominada Seminário de Belém onde foi ordenado noviço e seguiu em definitivo o sacerdócio.
Bartolomeu passou a adotar o sobrenome Gusmão porque o reitor e fundador do seminário onde ele estudava era o renomado sacerdote Alexandre de Gusmão. Seu irmão, homônimo do reitor, faria o mesmo tempos depois. Esse se destacaria como diplomata no reinado de D. João VI.
Bartolomeu passou a desenvolver seu dom da invenção no próprio seminário ao notar que ele era situado em monte de cem metros de altura e com precário abastecimento de água. Então, ele planejou e construiu um maquinismo para levar a água do brejo até o seminário por meio de um cano longo. A “engenhoca” teve seu teste muito bem-sucedido e ele ganhou notoriedade a partir de então.
Ele concluiu seu período no seminário em 1699 e se transferiu para Salvador (BA), que era capital do Brasil à época e ingressou na ordem religiosa chamada “Companhia de Jesus”, de onde saiu antes de ser ordenado, já em 1701. Então, mudou-se para Lisboa, capital portuguesa, onde estudou Direito Canônico na Universidade e onde se ordenou Sacerdote oficialmente. No ano seguinte, ele retornou ao Brasil e deu início ao processo de sua ordenação sacerdotal.
Bartolomeu dedicou-se a aprimorar seu invento implementado com êxito no seminário a ponto de requerer a patente deste à Câmara da Bahia três anos depois de retornar ao Brasil. Ao examinar o comportamento de uma chama, seja de uma vela ou uma fogueira, ele reparou que o ar quente podia elevar pequenos objetos. A partir disto, arquitetou este que ficou conhecido como “o invento para fazer subir água a toda a distância e altura que se quiser levar”. No dia 23 de março de 1707, o rei D. João V expediu a patente. Ela foi a primeira referente à invenção outorgada a um brasileiro.
No ano seguinte, já ordenado padre, ele viajou a Portugal novamente e foi estudar na Faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra. No entanto, ficou pouco tempo por lá e acabou abandonando o curso e mudando-se para Lisboa e recebido com honras pelo rei D. João V e pela rainha Maria Ana de Áustria. Nessa oportunidade, Bartolomeu solicitou patente, ou petição de privilégio, para um “instrumento para se andar pelo ar”. Mais tarde, esse instrumento revelou-se ser o aeróstato, ou balão, que consiste em um pequeno balão de papel, em forma de pirâmide e com armação de arame, tendo fogo no seu interior. Em sua apresentação, na Sala das Embaixadas do Palácio Real, ele subiu 4,60 metros, causando grande rebuliço por se tratar de uma inovação, pois se vislumbrava algo novo, algo que não se movia na terra, mas pelo ar. Esse invento fora divulgado em estampas fantasiosas que, em geral, o descreviam como uma barca com formato de pássaro, e ficou conhecido como “Passarola”. A patente foi concedida pelo rei a esse novo instrumento, segundo registros, em 17 de abril de 1709.
Com a comprovação de sua “máquina” e a notícia espalhada por boa parte do continente europeu, Bartolomeu promovera em Lisboa a primeira ascensão aerostática do mundo. Nos meses seguintes, realizou novas demonstrações da “passarola”, comprovando seu funcionamento. O aeróstato, ou balão, como ficaria futuramente instituído, era o principal assunto nos meios acadêmicos e na população em geral em terras lusitanas. Com a popularização do novo invento, ele passou a ser chamado de “Padre Voador”.
Além de seu invento, ele também teve atuação de destaque em outras áreas. Ele se diferenciava por seus dotes na oratória tendo atuação nos tribunais. Foi membro da Academia Real de História e cumpriu missões diplomáticas com o suporte do rei D. João V. Ele foi à Roma certa vez, em 1711, em visita diplomática e no seu retorno foi nomeado Secretário dos Estrangeiros.
Bartolomeu também começou a pagar o preço de ser um inventor consagrado. Após fazer demonstrações de seu balão em outros países da Europa entre 1713 e 1716, e chegando a residir em Paris, capital francesa, retornou a Portugal. Após seu retorno, passou a sofrer campanha de difamação contundente, sendo acusado pela Inquisição de então, grupo integrante da Igreja Católica, de simpatizar com “cristãos-novos”, como eram chamados os judeus que se convertiam ao cristianismo. Então, fugiu para a Holanda e lá fez experiências com lentes. Neste país, também registrou o invento de uma “máquina para a drenagem da água alagadora das embarcações de alto mar”. Tempos depois, se instalou em Paris novamente e trabalhou com plantas medicinais e vendia remédios fabricados por ele a partir destas plantas. Chegou a retornar a Portugal, quando passou a ser perseguido por suas criações, pois foi espalhado boato por inquisidores e fidalgos sobre elas serem obras de feitiçaria. Naqueles tempos, era considerada acusação grave e incitava forte perseguição pela população. Novamente teve de deixar Portugal e, desta vez, mudou-se para Espanha, residindo na cidade de Toledo.
Bartolomeu Lourenço de Gusmão obteve reconhecimento tardio pela audácia de sua invenção do balão, representando o princípio do que seria o transporte aéreo. Teve sua saudação à época, mas foi perseguido desproporcionalmente. Enquanto morava na Espanha, foi acometido por forte febre e faleceu em 18 de novembro de 1724, no Hospital da Misericórdia de Toledo, Espanha, aos 39 anos, e foi sepultado na Igreja de São Romão. Seus restos mortais foram transferidos para o Brasil apenas em 1966 e foram sepultados na cripta da catedral da Sé, em São Paulo (SP) somente em março de 2004. Em abril deste mesmo ano, ele foi nomeado Patrono dos Capelães da Aeronáutica. Em Passo Fundo, uma rua localizada no bairro São José leva seu nome como reconhecimento.
Arte: Comunicação Digital / CMPF